quinta-feira, 2 de maio de 2024

A MORTE DOS FIÉIS



Para Deus, é como perder um olho quando um dos seus piedosos morre.
(Sl 116:15)

 

Não faz muito tempo a COVID nos fez encarar de frente o problema da morte.  Até sei que em outras épocas e culturas a morte pode ser encarada de formas distinta, mas entre nós...

De repente, se foram...

Tanta gente perto, conhecida, querida, amada, pais e filhos.

Os números no Brasil ultrapassaram a casa das sete centenas de milhares de óbitos.

O luto e a dor da perda então se mostraram tão presentes e cruéis como parece que nunca tínhamos experimentado – pelo menos em minha geração.

E entre tantos, ainda vimos partir servos leais cristãos que o vírus não poupou.

 

— Mas, como Deus deixou falecer os seus fiéis?

 

Então levei minha atenção ao texto sagrado em busca de respostas.  Só ali o próprio Altíssimo poderia oferecer explicação para uma dor tão sem sentido!

 

A citação foi quase direta: recordo de ler em quase todo obituário cristão a citação do Sl 116:15 – e geralmente na versão mais tradicional de Almeida que diz ser preciosa à vista de SENHOR a morte dos seus santos.  Como se a morte de um fiel cristão fosse algo que Deus valorizasse, e até gostasse!

 

— Será isso mesmo? Será que Deus tem prazer na morte de seus fiéis?

 

Vamos ler juntos o texto do Salmo para entendê-lo melhor.

 

Em primeiro lugar considere que esse verso é poesia, e da boa!  Então ele precisa ser lido nessa perspectiva.

No Salmo 116 o salmista começa afirmando que ama o Senhor por que ele ouve a sua voz (verso 1) e também reconhece que somente o Senhor é misericordioso para livrar a sua alma aflita (verso 5).  E se questiona como retribuir por bênçãos sem medida (verso 12).

Então, ele se dispõe a celebrar e cumprir seus votos (versos 13-14).

Mas tem um problema: a morte me envolveu com suas cordas (verso 3).  Ora, se os mortos não cantam louvores ao Senhor (considere o Sl 115:17), como louvar a Deus no silêncio da sepultura?

Aqui entra o entendimento do verso 15.  De maneira poética o salmista faz a exclamação: para Deus, perder um dos seus fiéis piedosos é como prejuízo (custa caro!) – seria como perder um olho!

 

É isso mesmo.  Na compreensão poética do salmista, para Deus, quando um fiel morre, é como se ele perdesse um adorador valioso.

Bem, posso entender que a visão do salmista sobre o Deus eterno ainda era limitada, e que na eternidade também haverá louvor ao Criador (Apocalipse é cheio dessas citações).  Mas, ele está salmodiando a certeza que, desse lado da existência, a morte de um fiel é uma perda lastimável – e o Senhor não fica indiferente a isso.

 

Ora, sobre a morte dos santos, ainda é bom citar o texto da profecia de Ezequiel onde Deus diz, literalmente: Eu não tenho prazer na morte de ninguém (Ez 38:32).

Ou seja, numa compreensão bíblica, não faz sentido Deus ter interesse na morte de seus servos, nem que isso lhe seja computado como ganho.  Pelo contrário, Deus nos criou para a vida e para isso foi que ele veio: para nos dar vida em abundância (estou citando Jo 10:10).

E mais.  Se por um lado Deus é o autor e doador da vida (vá a Gn 2:7), por outro, a morte é resultado exclusivo do pecado (considere Rm 6:23).  Como ele teria qualquer satisfação no resultado de algo que o aviltou e separou de si mesmo suas criaturas?

 

Eu creio num Deus que sofreu e chorou cada luto do COVID junto àqueles que sofreram como uma perda irreparável.  Ele recolheu tais lágrimas no seu odre (poesia maravilhosa do Sl 56:8) e os convidou de maneira amável a se acalentar em seu descanso consolador – mesmo em meio a dor – confiando que ele continua sendo bom (termino voltando ao Sl 116:7).

 

 

#1. A versão do Sl 116:15 que está lá no cabeçalho desse texto é minha, feita a partir do hebraico (sem compromisso linguístico), apenas compreendendo o seu sentido poético.

#2. Para dar base a essa reflexão, eu preparei uma Exegese rápida do Sl 116:15 que postei e pode ser acessada nesse link.

 

 

terça-feira, 30 de abril de 2024

Exegese rápida do Sl 116:15

 


Preciosa é à vista de SENHOR a morte dos seus santos.

Assim é a versão mais costumeira de Almeida da Bíblia em Português para o Salmo 116:15.

 

O Senhor vê com pesar a morte de seus fiéis.

E assim é a versão da NVI em português.

 

Qual a versão mais condiz com o original?

 

Vamos trabalhar um pouco com o texto:

No hebraico do Westminster Leningrad Codex (somente consoantes) o palavreado pode ser lido assim:

 

יקר בעיני יהוה המותה לחסידיו׃

 

Analisando, palavra por palavra –

 

יקר yā-qār [adj.] precioso, raro, custa caro/muito
Também aparece em textos como 1Sm 3:1 e Pv 6:26

בעיניbə-‘ê-nê [prep. + subst.] como + olho/vista
Também em Pv 20:12

יהוהYah-weh [subst.] o nome próprio de Deus
Ocorre mais de 6200 no AT Hebraico

המותהham-mā-wə-ṯāh [subst.] a morte
Como em Gn 21:16

לחסידיוla-ḥă-sî-ḏāw [prep. + subst. + pron.] dos seus piedosos/gentis
Encontrado também no Sl 18:25

 

Esse texto nas traduções clássicas:

 

Grego – LXX –
Τίμιος ἐναντίον Κυρίου ὁ θάνατος τῶν ὁσίων αὐτοῦ.

 

Latim – Vulgata Clementina –
Pretiosa in conspectu Domini mors sanctorum ejus.

 

E veja como era versão de Almeida em 1819 –
Preciosa he em olhos de Jehovah a morte de seus privados.

 

Lendo possibilidades de tradução (além de Almeida e da NVI que já citei lá em cima):

 

Inglês – King James Version –
Precious in the sight of the LORD is the death of his saints.

Inglês – New Living Translation –
The LORD cares deeply when his loved ones die.

Francês – Louis Segond (1910)
Elle a du prix aux yeux de l'Eternel, La mort de ceux qui l'aiment.

Alemão – Luther (1912)
Der Tod seiner Heiligen ist wertgehalten vor dem HERRN.

Espanhol – Reina Valera 1909
Estimada es en los ojos de Jehová La muerte de sus santos.

ItalianoRiveduta Bible (1927)
Cosa di gran momento è agli occhi dell’Eterno la morte de’ suoi diletti.

 

Comentando esse verso, o Comentário Bíblico Africano assim se expressa:

 

As palavras preciosa é aos olhos do SENHOR a morte dos seus santos (116:5) não significa que Deus deseja a morte deles.  Antes, indicam que Deus atribui alto valor a seus santos e não permite que percam a vida facilmente.

 

Luiz Sayão, (num artigo para a FTBSP) assim comenta:

 

Aqui a palavra yaqar é vista no seu sentido de “algo de alto custo”, isto é, “precioso”.  Isso significa que para Deus a morte de um fiel é algo que custa muito. A tradução de Toombs, por exemplo, capta bem a ideia: “O SENHOR não é indiferente ao fato de seus fiéis serem ou não mortos”.  Numa tradução bem contemporânea, poderíamos dizer que para o SENHOR a morte de seus fiéis “não passa em branco”.  A morte de alguém que é fiel ao SENHOR recebe a atenção de Deus, assim como uma pedra preciosa atrai o olhar de alguém.

 

Então, eu traduziria assim o verso (sem compromisso linguístico), apenas compreendendo o seu sentido poético:

 

Para Deus, é como perder um olho quando um dos seus piedosos morre.

 

Você pode ler uma reflexão bíblica a partir desse trabalho rápido de exegese bíblica intitulado A MORTE DOS FIÉIS no seguinte link.

terça-feira, 23 de abril de 2024

O encontro de Jesus com os nazarenos

O ENCONTRO DE JESUS COM OS NAZARENOS

 


 Reflexão baseada em Lucas 4:16-22

Quais os seus costumes espirituais?
Você percebe Jesus no seu cotidiano?
Você consegue ver Jesus mesmo sem o sobrenatural?

 

quarta-feira, 17 de abril de 2024

O CRISTÃO E A POLÍTICA – nossa herança



Sobre o cristão e a política é importante destacar que esse sempre será um tema de interesse e atualidade.  Por isso também devemos observar qual a herança recente da igreja nessa área específica e como ela tem se posicionado nos últimos tempos.

Em relação a herança e a contribuição dos cristãos para o ocidente e seus conceitos de civilidade, democracia e humanismo, convém citar as palavras de Ariovaldo Ramos:

“Nós construímos uma sociedade de direitos, lutamos por e reconhecemos direitos civis, e não podemos abrir mão disso; não podemos abrir mão da civilização que ajudamos a construir e a solidificar, onde mulheres, homens e crianças são protegidos em sua integridade e garantidos em seus direitos.  Na democracia que ajudamos a reinventar, onde cada ser humano vale um voto, tudo pode e deve ser discutido segundo as regras da civilidade.” (in guiame.com.br)

Ao longo dos últimos cem anos, alguns nomes cristãos se destacaram por suas atuações políticas e contribuições para suas respectivas comunidades e nações.  Nomes como o do metodista sul-africano Nelson Mandela que catalisou a liberdade racial no seu país.  O diácono batista Jimmy Carter que presidiu os Estrados Unidos.  E o anglicano Tony Blair que se destacou como premier britânico.

Dois nomes nessa relação, porém, merecem destaque especial: o pastor batista Martin Luther King Jr. (1929-1968) que liderou a nação norte-americana no fim de suas leis racistas e a aprovação dos direitos civis a partir de suas pregações bíblicas em sua igreja em Atlanta e seu engajamento social e político, sendo reconhecido com vários prémios, inclusive com o Nobel da Paz.

Também destaque merece o nome do luterano alemão Dietrich Bonhoeffer (1906-1945).  A partir de estudos bíblicos e de ética cristã ele se recusou a apoiar a política nazista alemã, fundou comunidades cristãs no seu país comprometidas com a verdadeira confissão cristã.  E por conta de seu comprometimento cristão ele acabou preso e morto num campo de concentração.  Porém deixando um verdadeiro legado de como os cristãos podem – e devem – se posicionar frente às demandas políticas de sua nação.

(Da Revista DIDASKALIA – 1º quadrimestre / 2023 – IBODANTAS)

terça-feira, 9 de abril de 2024

ÉTICA E ACONSELHAMENTO PASTORAL

 Respondendo a uma questão sobre as bases éticas e bíblicas do Aconselhamento Pastoral, eu ofereci a seguinte reflexão:

Inicialmente, em linhas rápidas, é preciso logo deixar observado que, no Brasil, a atividade de aconselhamento pastoral só deve ser feita sob a ótica espiritual (ou religiosa).  É vedado por lei o exercício de atividade de atendimento psicológico / psicanalítico por profissional não habilitado.

O pastor deve ser graduado em Teologia e, embora na sua formação acadêmica, tenha estudado sobre noções de aconselhamento/acolhimento (é assim nas instituições sérias!), ele não tem em si uma formação científica específica na área.

 

Em relação à base bíblica do aconselhamento pastoral: tudo começa com o amor (assim logo cito Cl 3:14).  Toda atividade cristã (e o pastor necessariamente se inclui aqui) deve começar pelo verdadeiro amor (lembre Mt 22:37-39).

A tarefa de aconselhamento pastoral deve ser exercida como uma forma concreta de acolhimento e vivência de amor cristão, procurando – através de linhas bíblicas – ensinar, redarguir, corrigir, instruir em justiça (2Tm 3:16).  Sob a orientação do Espírito Santo.

 

Acrescente: O apóstolo Pedro na sua primeira carta instrui aos presbitérios que pastoreiem e cuidem de seus rebanhos sem ganância, mas com a atitude de serviço.  E nunca ajam como caudilhos daqueles que lhes foram confiados pelo Supremo Pastor (1Pe 5:1-4).

 

Indo um pouco mais.  Preste atenção que no texto de Ef 4:11 o apóstolo cita o ministério de pastoreio entre os dons (carismas) com os quais o próprio Espírito capacita a igreja.

 

Curiosidade:  o termo em grego no texto citado é ποιμήν que implica literalmente, no dicionário, um pastor, alimentador, protetor e governante de um rebanho.

Ou seja: o pastorado é um ministério a ser exercido entre a Igreja de Cristo por homens e mulheres que foram escolhidos, designados e espiritualmente capacitados por Deus para cuidarem do rebanho a eles confiados pelo Cabeça da igreja – Cristo.

 

E para concluir: a passagem da restauração de Pedro e seu comissionamento é bastante significativo nessa compreensão (leia Jo 21:15-17).

— Pedro, você me ama?

— Então cuide de minhas ovelhas!

 

 

Aproveitando, utilizando da metodologia da oposição de conceito, leia algo que escrevi sobre o que seria exatamente o contrário do ministério pastoral

O CAUDILHO ECLESIÁSTICOlink

Também, sugiro duas respostas que já ofereci a temas similares:

SOBRE MINISTÉRIO PASTORALlink

APTIDÃO E PASTORADOlink

 

terça-feira, 2 de abril de 2024

NEM JUSTO DEMAIS, NEM SÁBIO DEMAIS



O texto bíblico de Eclesiastes é uma antologia de frases proverbiais e de sabedoria, aforismos e axiomas atribuída ao mestre (gosto do título em hebraico: קהלתqohelet – o erudito), rei em Jerusalém.

O tema repetido quase como um refrão no texto é que tudo nessa vida é vaidade (essa palavra em hebraico é הבלhabel – vazio, nulo – citada quase 30 vezes no livro).

Muitos comentadores se referem ao texto com um conjunto de citações de “um velho rabugento, frustrado com a vida”.

 

Mas não é sobre esses temas introdutórios que pretendo escrever aqui.  Pessoalmente, sem dúvida, olho para o texto de Eclesiastes como um documento canônico – inspirado e divinamente autorizado – logo, normativo para minha vida espiritual e social – regra de fé e prática!

Assim sendo, vou focar num fraseado que ecoou para mim essa semana a partir de uma postagem recente que vi nas redes sociais:

 

— Não seja justo demais, nem sábio demais.  Por que você destruiria a si mesmo?
(Ec 7:16)

 

E como texto sagrado, ele se revela como extremamente atualizado!

 

Num ambiente religioso onde há a pretensão de reagir – e rechaçar – o liberalismo (com destaque a questões morais e de costumes) dos tempos fluidos, o fundamentalismo investe em firmar posições cada vez intransigentes.

 

(eita!! Essa frase ficou bem teórica – vou refazer)

 

Hoje em dia, em cada conversa, em cada citação, em cada pregação, em cada postagem, em cada zap, parece que estão levantando bandeiras de batalhas, defendendo verdades imutáveis, divinas e eternas.

Guardiãs da moralidade, da justiça, da verdade – gente “de bem” – sempre se apresentam como baluartes de valores sagrados.

 

(Atenção: eu não confundo o religioso com o fariseu!)

 

É aqui que o texto bíblico se revela como extremamente atualizado!  Em tempos onde diferentes justiças e verdades digladiam por primazia.  Em tempos de fake news com validade de conveniência.  Em tempos de embates entre cosmovisões (não achei outra palavra para essa frase!).  Nesses tempos, a Palavra continua eterna e suas lições relevantes.

 

O mestre bíblico – o qohelet – instrui com convicção:

 

— Não seja justo demais.  Não seja intolerante com seu senso de justiça.  Não queira ser o martelo da justiça do mundo (os latinos diriam: malleo mundi).  Não seja zeloso demais com o que é certo.  Não seja chato.  Ouse abrir exceções!  Ouse deixar a vida simplesmente fluir!

— Não seja sábio demais.  Não seja o critério da verdade e da sua interpretação.  Não queira ser o detentor de toda a sabedoria e verdade.  Não seja sisudo demais com o que é certo.  Não seja chato.   Ouse não saber!  Ouse aprender!

— Afinal, atitudes assim corrompem a vida e atraem a morte.  Pessoas e sociedades definham e falecem com excesso de justiça e de verdade.  Isso é fatal!

 

Então, minha atenção é atraída necessariamente a Cristo – fundamento primário de nossa fé.  Se, em nome do meu cristianismo, eu postulo justiças e conhecimentos que seriam estranhos ao Jesus de Nazaré, alguma coisa está muito errada.

Jesus foi justo – mas deu abrigo aos injustos e pecadores em seu grupo mais íntimo.  ELE disse: “vá e não peque mais” – mas só depois de ter dito: “eu também não lhe condeno”. 

 

Ouse não ser nem justo demais, nem sábio demais!  Ouse ser apenas cristão!

 

terça-feira, 26 de março de 2024

ATÉ A CRUZ



Seguindo a narrativa de Lucas, preso à traição, Jesus foi julgado pelo menos quatro vezes: pelo Sinédrio sob a acusação de blasfêmia; por Pilatos, acusado de agitação social e política; por Herodes, sendo por este desprezado e novamente por Pilatos que, mesmo não encontrando crime, cedeu à pressão dos acusadores e entregou Jesus ao martírio.

Em todos estes julgamentos, o mais importante a se destacar é que Jesus era justo.  Ele morreu sem culpa ou pecado.  Isto foi inclusive reconhecido pelo malfeitor que o acompanhou na cruz (confira Lc 23:41) e pelo centurião na hora da morte (24:47).

A morte de Jesus não foi resultado de seus erros e crimes, mas para levar a efeitos os planos de Deus e cumprir as profecias, e por fim tomar posse definitiva de sua glória (observe o que o próprio Cristo disse no caminho de Emaús em Lc 24:26-27).

Outro detalhe a ser notado é que no trajeto final até a cruz, seus discípulos mais próximos estiveram ausentes, mas um grupo fiel de mulheres não o abandonou, lamentando o ocorrido (leia Lc 23:27).  Elas que acompanharam o ministério de Jesus desde o início (reveja Lc 8:1-3) e depois testemunharam a ressurreição (em Lc 24:1-3) não foram ignoradas por Jesus neste momento de dor (leia 23:27-32).

 

O método de execução por crucificação praticado pelos romanos era extremamente cruel e humilhante.  O sentenciado era pregado em um madeiro e ali ficava exposto ante à vergonha pública enquanto sentia suas últimas forças vitais irem embora lentamente.

Foi num instrumento assim que Jesus morreu (a narrativa da crucificação encontra-se em Lc 23:33 em diante).  Levado ao monte Calvário, Jesus foi preso à cruz sob o olhar de todos.  Contudo as reações foram as mais diversas: o povo apenas observava com curiosidade; as autoridades e o soldados zombaram, e dos dois malfeitores que também foram crucificados, um blasfemou e o outro suplicou por clemência.

Mas é preciso destacar e procurar compreender as palavras e atitudes de Jesus naquela hora fatal.  A grandeza do homem que é Deus esteve estampada em cada uma delas.

Logo ao chagar ao lugar do sacrifício e estar preso ao madeiro, Jesus se dirigiu ao Pai pedindo perdão para aqueles que o matavam (leia Lc 23:34).  É nesta hora que Jesus demonstrou todo o amor e cuidado por aqueles que precisavam de seu perdão, por estarem ignorantes no que faziam.

Para o malfeitor arrependido, Jesus lhe abriu as portas do paraíso (em Lc 23:43).  Esta era a razão principal de sua missão, atrair pessoas para o convívio eterno com Deus.  E ele não negaria a um pecador arrependido.

E com o último suspiro, Jesus entregou seu espírito ao Pai (em Lc 23:46).  Com tal declaração, ele estava anunciando sua fidelidade absoluta ao Deus todo-poderoso que julga e redime os seus.

Há uma ironia, contudo, que deve ser notada na cruz.  O título estampado sobre Jesus – como era costume romano fazer, declarando a culpa do sentenciado – é a mais perfeita verdade do evangelho: Este é o Rei dos Judeus (Lc 23:38).


(A partir da Revista "Lucas" – Editora Sabre)